O tema da
Educação Sexual muitas vezes pode ser interpretado de forma reducionista, com
uma carga sexual-genital onde os agentes educativos tendem a sentir algum
embaraço e insegurança na abordagem. Na maioria dos casos, a inexistência de modelos
na sua própria infância torna esta tarefa parental nova e, deste modo, sentem-se
como menos preparados para realizá-la.
Para tal há que
considerar o que é a Educação Sexual. Esta é realizada mesmo quando julgamos
que não o fazemos. Ela está ligada à vida: aos momentos que partilhamos, ao
mudar as fraldas, os afetos, as carícias, comentários a um programa de
televisão, o momento de dar banho, os exemplos que damos etc.
Desta forma, é
importante que tenhamos em conta que estamos moldando as nossas crianças ao
transmitir-lhes valores, mesmo quando pensamos que não.
Grande parte dos
problemas ligados à vivência da sexualidade têm origem na falta de informação e
na ansiedade daí gerada. Da mesma forma, a ignorância sobre estes assuntos poderá
resultar numa baixa autoestima, promover um desenvolvimento não harmonioso,
desencadear situações de culpa ou de medo. Mesmo atualmente, numa sociedade
caracterizada pela facilidade em adquirir informação, a importância da família
é sempre distinta, dada a tonalidade emocional e afetiva implícita.
Daí a
importância de promover uma educação nesse sentido e contribuir para a formação
de crianças, jovens e futuros adultos com mais capacidade de se sentirem bem
consigo próprios, de amar, de se realizarem sexualmente, de se sentirem
felizes.
A idade dos "porquês" e a Curiosidade
pelo corpo
O
desenvolvimento da linguagem e a sua manipulação, vai permitir explorar o mundo
à sua volta. Neste período surge, por volta dos três anos, a fase do
"Porquê?". Nesta etapa de vida da criança, a temática sexual é quase
obrigatória. Temas como as diferenças anatómicas, de roupa, de jogos, a sua
origem (a célebre pergunta: "de onde vêm os bebés?"), são motivos que
causam enorme interesse e curiosidade na criança.
Paralelamente às
dúvidas e curiosidades que coloca através da linguagem, a criança explorará o
seu corpo, tentando conhecer e promover as sensações que produz. É a fase do
reconhecimento do seu sexo, do toque e da observação. É frequente mostrar os
seus órgãos sexuais, bem como compará-los com os das outras crianças para
melhor se reconhecer nesse confronto com o outro.
Para os pais, o
fato de uma criança explorar o seu corpo na procura de o conhecer e de sentir
prazer, é uma atividade que frequentemente causa apreensão. Porém, estes
comportamentos são naturais, fazem parte do desenvolvimento, e é com essa mesma
naturalidade que deverão ser encarados. É possível orientar a criança, sem a
culpabilizar pelo fato de ter essas manifestações na intimidade.
É importante os
pais reviverem narrativamente e entre si a sua própria infância e adolescência:
o modo como foram sentidas as questões, dúvidas associadas à sexualidade, o
meio pelo qual chegaram à informação e, a percepção e sentimentos agregados a
estas informações recolhidas. Este diálogo do recordar permite ensaiar e
debater, de forma antecipada e estruturada, questões relativas à educação dos
filhos do casal.
Durante a
infância, as crianças questionam-se sobre os mais variados temas. Estas
perguntas devem ser atendidas à medida que vão surgindo, permitindo a
assimilação e estruturação das suas respostas, daí que devem ser adaptadas ao
nível etário da criança. De igual modo, também em outras áreas, convém
aproveitar as oportunidades que vão surgindo no cotidiano para debater estas
questões.
Na abordagem do
tema da sexualidade, é conveniente associá-lo ao amor, à ternura, e ao
bem-estar, para que as crianças compreendam que, enquanto forem crianças, não
poderão ter relações sexuais, pois o corpo não está suficientemente
amadurecido. Como outras coisas na vida, elas acontecerão mais tarde.
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